terça-feira, 30 de setembro de 2008

O QUE ELA CANTOU COM LÁGRIMAS NAQUELA NOITE

Poderia ela gritar com sua garganta friamente rouca? Poderia pedir ajuda para alguém, pelo menos alguém, se ela alguém conhecesse? Se esse alguém se oferecesse? Poderia correr desesperadamente, batendo nos carros, esbarrando em pessoas apressadas, tropeçando nos próprios sapatos apertados que a essas alturas já esmagaram o passado assim como um fumante esmaga friamente a bituca de seu último cigarro? Poderia de repente parar naquele não-espaço e num lapso de segundos de seu-não tempo imortal olhar para o chão para ao menos ver o tamanho do buraco? Ou seria um poço?
Sim. Se pudesse voltaria! Jurava que voltaria! Preencheria calmamente todo aquele imenso vazio, todo mísero e ridículo silêncio daquele apartamento sufocante com a sua voz aguda e então, somente então cantaria aquela mesma canção mais uma vez, porém muito mais alto que antes. Exageradamente muito, mas muito mais alto que antes! Tão alto que já não se poderia mais ouvir nem mesmo aquele velho sinal que todas as noites insistentemente ressoava ardido em seus ouvidos obsecados por silêncio. Só assim seria feliz, se pudesse, se tivesse tal voz.
E no entanto ela espera...espera escutando a mesma música na tentativa de, se não cantar, ao menos chorar pois ainda assim acredita que o choro poderia ser uma forma tímida de voz, talvez a da sua alma, ou quem sabe a do seu coração...se é que ainda o tem por inteiro.

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

casamos
apartamentamos
e nos apertamos

SOBRE O TEMPO





e se o tempo parasse
parasse para esse momento?
até pareceria parado
se parado parecesse
se parado permanecesse
apenas neste momento.
mas que chato seria
todo o tempo do mundo
pa
ra
do

alias, pra que que eu o quero parado
se eu sou a ampulheta?

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

RAIVA: RELVA RUBRA

uiva na noite e me rasga em vermelho.
rubra de raiva, revolvo-me na ruiva relva que é a minha cama.

acalmaria se me enraivessesse tudo de uma vez
e não aos pouquinhos,
aos pingos como duram estes dias...

portanto me enraivesso,
viro-me do avesso
desavença e arremeço
arremeço de raiva
raiva sem preço.




desculpe!

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

trabalho para não ter o trabalho de arrumar um trabalho.
será que mesmo assim estou trabalhando?